#EP31: Professores empreendedores criam app que procura fazer match com outras pessoas
No 31º episódio do Isto Não é Pera Doce! recebemos Leandro Mota e Marcelo Fernandes, professores, profissionais no ramo da informática e fundadores da Wolf Smart Industries, que criaram há poucos meses uma aplicação que se apressaram a definir como não sendo o Tinder do Desporto.
Entre o percurso profissional, a carreira de programação e informática, as exigências no mercado pelos profissionais da área, este episódio debruça-se sobre a app que procura fazer match com outras pessoas – que já foi apresentada na WebSummit-, para encontrar parceiros e companhia para a prática desportiva. Entre a conversa informal e o engano no guião, falamos também do impacto da Inteligência Artificial na Educação. Não perca, a conversa na íntegra:
A mudança de paradigma: é limitativo escolheres um curso aos 18 anos e fazeres o resto da tua vida nessa profissão
Atualmente, ficamos com a ideia de que os profissionais de informática têm maior capacidade negocial, uma vez que há muita oferta. Uma tendência, refletida por Leandro e Marcelo, que nomeiam alguns motivos para os quais isto possa ter acontecido: o covid, que acelerou a possibilidade do trabalho remoto, que nos trouxe a possibilidade de estar em Portugal, mas a trabalhar para os Estados Unidos, por exemplo; o impacto do digital na visibilidade de uma marca ou empresa, onde hoje se esse projeto não estiver online, praticamente não existe.
Agora [existe] uma tendência, [que] se o nosso negócio não está online, ou na Internet, nós somos invisíveis. Então, com muita procura desses sistemas, sejam websites, softwares…, para o nosso negócio, também cresce a procura de profissionais nessa área. Então, existem empresas a crescer, existem mais vagas disponíveis. Neste caso, os engenheiros informáticos têm maior disponibilidade de vagas e conseguem negociar muito melhor os contratos, porque isso é uma tendência normal.
Neste contexto, a procura destes sistemas aumenta – sejam websites, softwares, etc -, o que faz aumentar também a procura pelos profissionais da área. Profissionais que podem acabar por dar uma perspetiva de maior independência em si mesmos e menos fiel às empresas, porque se torna mais acessível trocar a oportunidade profissional. Para Leandro, esta ideia deve-se à mudança de paradigma pela qual a sociedade está a passar:
E, sobre aqui um ponto de nós mudarmos muito de emprego, também deve-se um bocadinho à mudança de paradigma: antigamente, os nossos pais tiravam um curso ou algo do género e iam trabalhar 40 anos para aquela profissão. Não se viam a fazer mais nada do que aquela profissão. Hoje em dia, nós temos acesso a tanta informação e acho que é um bocado limitativo tu escolheres um curso aos 18 anos e fazeres o resto da tua vida nessa profissão. Então, hoje em dia, nós também procuramos coisas novas. Não só mudar de emprego, às vezes, pelo salário, mas também pelos desafios novos.
Com a aposta na criação da Wolf Smart Industries, Leandro e Marcelo colocam-se agora do outro lado: o que contrata. Marcelo afirma que há coisas que tinha como funcionário que quer trazer para a sua empresa. Leandro reflete que as dificuldades que encontrou nas empresas pelas quais passou, quer melhorar na sua.
Nós temos este espírito e compromisso com a empresa. Acho que a liberdade tem de ser dada aos funcionários e, neste momento, claro que só tendo um é fácil de gerirmos melhor, mas queremos tentar trazer pessoas para a empresa que assumam a responsabilidade. Que também do nosso lado vão ter o apoio que seja preciso. E a flexibilidade, que acho que hoje em dia é imprescindível.
O lado empreendedor e a IWaP
Não é muito comum vermos professores a abrir empresas, mas o lado empreendedor de Leandro e Marcelo surgiu antes da carreira de professor. A ambição de abrir uma empresa esteve sempre presente, desde a licenciatura, explica Leandro.
Desde que tirei a licenciatura, no fundo, sabia que ia assumir um cargo de empresa. Mas, nós conhecemo-nos na universidade e já na universidade fazíamos pequenos projetos, nada a ver com a escola, simplesmente para tentar pequenos negócios. E tentamos várias vezes. Em 2021, desafiei o Marcelo. Mas, eu disse-lhe logo à partida: se for é a full-time, não há part-time.
Depois de várias tentativas de negócios, desde os tempos de estudantes universitários, foi em 2021 que nasceu a Wolf Smart Industries e que, Leandro e Marcelo deram início às suas carreiras empreendedoras. A inauguração aconteceu sem qualquer cliente ainda conquistado, mas com a vontade de remar um oceano imenso.
Quando abrimos a empresa em setembro de 2021, a 06 de setembro de 2021, e foi exatamente “acabamos de entrar num barco, temos todo um oceano aqui para remar. Agora é ver onde há trabalho, os clientes…” Não tínhamos nenhum cliente, zero. Abrimos, zero clientes.
Neste momento, o portefólio já conta com alguns projetos, mas aquele que ganha destaque é a aplicação que desenvolveram e que já levaram à WebSummit – a IWAP – a app que procura fazer match com outras pessoas, que tenham motivação desportiva.
Esta app foi pensada, lá está, como pessoas deslocadas como ele, que chegavam a sítios ou a cidades que não conheciam ninguém e iam ficar lá um bom tempo, como é que eles conseguiam encontrar pessoas para fazer desporto.
Em pouco mais de um mês, já conta com mais de duzentos utilizadores, uma ida à WebSummit e comentada por um número não contabilizado de pessoas.
Neste momento, as pessoas estão a aderir q.b, digamos assim. Nós já temos perto de duzentos e tal users (utilizadores), o que não é mau, para quem iniciou há um mês. Toda a gente acha muito útil a ideia, mas neste momento precisamos de crescer a comunidade, para dar mais oferta, no fundo. E é essa parte que nós estamos aqui a começar a trabalhar, para melhorar.
Ao enfrentarem as dores do crescimento, como lhes chamam, têm traçado algum caminho a seguir.
Também a nível de marketing, para não ser uma aplicação perdida na store, um website perdido na internet: trabalhar a parte do marketing. E, depois, trabalhar a parte dos utilizadores que estão dentro da aplicação, promover com que eles criem laços, interajam.
Objetivos que fazem agora parte do desenvolvimento da empresa e da própria app, que devido ao feedback que receberam na WebSummit percebem que é uma vontade dos utilizadores e investidores ouvirem falar mais deles no futuro. Um futuro que tende a ser marcado pela Inteligência Artificial.
A Inteligência Artificial e a Educação
E, como será que a Inteligência Artificial (IA) poderá impactar a Educação? Qual a visão de Leandro e Marcelo: otimista ou pessimista? Muito se tem comentado quanto aos contras que a IA pode trazer, principalmente no que respeita a substituição de profissionais em várias áreas.
Concretamente, na Educação, percebemos que a IA já assume alguma influência. Marcelo partilha que alguns alunos recorrem ao Chat GPT na tentativa de este lhes resolver um enunciado de um exercício proposto. Mas, se por um lado, pode causar desvantagens, as vantagens também são evidentes, explica.
No meu caso, estou a dar aulas práticas. Ou seja, sai um enunciado de um trabalho prático: vocês têm de fazer isto. E é incrível os alunos pegarem no enunciado e a colar no Chat GPT. Como é óbvio, não vai fazer o trabalho todo. Agora, em partes de funcionalidades e assim, ajuda imenso. Nós enquanto docentes temos também de tirar partido das plataformas que existem de inteligência artificial.
Marcelo acredita que, no futuro, é muito difícil a IA substituir um professor, “muito difícil”, reforça. Para Leandro, o futuro relativo à IA é otimista: esta pode criar mais trabalho especializado e até mais bem pago.
Eu sou otimista na parte da IA. Por exemplo, eu trabalhei no mercado industrial. Nós fazíamos máquinas para produzir mais, em menos tempo, com menos pessoas. É assim, isso não rouba trabalho. Simplesmente, alguém tem de cuidar da parte de trás. Portanto, cria é mais trabalho especializado, que é mais bem pago até.
Quanto à aplicação da IA no dia-a-dia de um professor, ambos defendem que a IA pode ajudar no acompanhamento individualizado do aluno e facilitar algumas tarefas dos professores.
Ou seja, ver onde é que o aluno tem mais dificuldade em aprender e a IA focar-se mais naquela temática, digamos assim. E dar conteúdos à medida para aquele aluno. (…) [O professor] vai ganhar tempo.
Ser professor não tinha sido algo que imaginariam. Mas, para Leandro, a aposta da escola na contratação de profissionais para lecionar é uma mais-valia.
Eu nunca pensei ser professor, mas acho muito bem a escola associar profissionais, pessoas com experiência, a lecionar. Porque, nós conseguimos trazer casos reais e conseguimos adaptar o conteúdo, realmente para o caso real. E acho que isso nós conseguimos evoluir a educação. Pelo menos, é essa a minha perspetiva.
Assista ao episódio, na íntegra, no YouTube, Spotify, iTunes ou Google Podcasts.
Adriana Ribeiro
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