O 26º episódio do Isto Não é Pera Doce perceciona a Educação como um espaço de
crescimento, não apenas ao nível de sabedoria da matéria lecionada, mas enquanto
pessoas integrantes de uma sociedade: a construção de valores, o comprometimento
com os outros e o interesse nas relações interpessoais.
O convidado deste programa é Sérgio Rúben Lourosa Alves, professor de História,
História da Arte, Geografia, Cidadania e Desenvolvimento. Teve formação e experiência
artística em música – fez parte de bandas icónicas, como os One the Shock -, teatro e
dança, mantendo, ainda hoje, uma carreira artística.
Nas escolas, por onde passou, fundou clubes de teatro – teatro musical -, e desenvolveu
um projeto que o levou a ser nomeado para Global Teacher Prize Portugal. A Educação
pode ser transversal, mas sujeita a adaptações, desafios e estratégias: a encenação e o
canto podem contribui para uma aprendizagem eficaz. Quer descobrir como? Ouça o
que o nosso convidado tem para nos dizer:
Usas muito a encenação, o dramatismo, a arte dramática dentro da sala. Como é que consegues implementar isso?
Um assumido enérgico, positivista e que gosta de fazer coisas diferentes, Sérgio Alves,
traz para o Ensino as artes performativas, como componentes auxiliares à
aprendizagem. Um “professor fora da box” que acredita: adotar estratégias que se
adaptem à realidade dos alunos que encontra pode, efetivamente, melhorar resultados.
Eu acho que, há planos de aula, há toda aquela parte prática, mas nunca
ninguém acaba por fazer aquele plano de aula que tem, ou exatamente aquilo
que tinha pensado. O público é sempre diferente, o público tem sempre
exigências que outros não têm e acho que nós estamos constantemente a
improvisar. E ajuda-me, às vezes, estas técnicas de teatro e de música, que
me fazem realmente, às vezes, sair de situações um bocadinho até
periclitantes, para conseguir resolver, sim. Utilizo muito as técnicas.
Neste contexto, Sérgio, é aquele professor que sugere novas metodologias, novas
abordagens. Aquele que propõe “vamos tentar fazer diferente”. A importância da
adaptação da metodologia de trabalho aos públicos diferentes que encontra – as
diferentes turmas -, é crucial, do seu ponto de vista. Isto, porque Sérgio considera que,
mais do que um local de aprendizagem de matérias, a escola desempenha também o
seu papel, no que respeita formar cidadãos.
Eu digo-lhes sempre “Estou aqui a ensinar-vos História, mas também estou
aqui a ensinar-vos a vocês serem uns cidadãos ativos na sociedade, com
valores e com princípios e que saibam estar, efetivamente”.
Formar seres humanos com valores implica, na perspetiva do convidado, os professores
se colocarem no lugar dos alunos, o que é desafiante. Há gerações diferentes, turmas
muito distintas. São os alunos o seu público mais exigente, afirma. Mas, é importante
conhecê-los, percebê-los, realçar esta nossa parte humana, pois a aprendizagem pode
ocorrer, de facto, nos dois sentidos. Não tem de ser unilateral.
Se nos colocarmos ao nível deles [dos alunos], sem nunca, claro, perder o
distanciamento ou o respeito, digamos assim, que é uma das consequências
da autoridade e de estar ali a educar, nós só temos a aprender com eles e
eles connosco. Ou seja, uma coisa que me faz querer ser professor é que eu
sei sempre o que está na moda. Ou seja, este tipo de know-how, este tipo de
conhecimento das vivências deles é muito importante, para que o nosso
percurso não fique desadequado, do que está a ser vivido por aquela geração.
Eu quero tornar-me num professor que é intergeracional, ou seja, que vai
sempre estar adaptado à geração de hoje em dia.
Como é isto de saltar de escola em escola? Tem sido a
tua vida.
Educar é, por isso, um desafio constante. Porém, nem sempre devido às mutações das
gerações ou à exigência dos alunos, mas às próprias mudanças de escola que ocorrem,
quase, a cada ano letivo, para Sérgio. As direções de escola que encontra nem sempre
concordam com as propostas que leva na bagagem.
há muito aquele discurso, e passei em algumas escolas em que isso
aconteceu, “nós sempre fizemos assim”. Esta frase para mim é […] meio
caminho andado para uma apatia, para uma inércia total. […] passei por
escolas que as portas, à priori, nem sequer me deixaram, foram fechadas e
tive outras que resultaram em “bora, faz, concretiza, isso é só bom para os
alunos e para nós.
E custa. Custa muito quando um professor é barrado por querer dar um input novo.
No entanto, o que mais entristece Sérgio é a mudança regular, é o saltar de escola em
escola. É deixar aquele público que, ao longo do tempo em que esteve com ele, se
dedicou ao máximo. Conheceu-o, estudou-o, pediu-lhe o feedback da sua performance,
para conseguir descobrir as melhores estratégias que funcionavam com ele. E, num
ápice, acaba.
Isso é o que me custa mais. Ou seja, tu vais com esta energia toda, integras
o projeto, vês o projeto até a crescer, e depois quando, ainda por cima 9
meses, realmente já está cá fora, está espetacular e tu deixas lá a criança
para adoção. Ou seja, eu sinto quase um pai que todos os anos deixa uma
criança para adoção nessa escola.
A vantagem, além das memórias que ficam e guarda consigo, é o reconhecimento de
que pode ter deixado a sua pegada no crescimento daquele aluno, daquele colega,
daquela escola.
Mas, também, uma certeza de que, como durante aquele ano, aqueles alunos
tiveram uma coisa diferente, se calhar durante aquele ano já deixei lá alguma
semente para alguns colegas meus que integraram o projeto […].
Assista ao episódio, na íntegra, no YouTube, Spotify, iTunes ou Google Podcasts.
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