No vigésimo episódio de Isto Não é Pera Doce falamos sobre um tema que, atualmente, paira pela mente de muitas famílias: será que o meu filho deveria aprender programação, a carreira de sucesso do futuro? A Nilza Moreira, Diretora de Operações na Happy Code do Porto, uma escola de programação que ambiciona formar pensadores e criadores do século XXI, falou-nos sobre as competências que as crianças adquirem quando aprendem programação, que vão além da literacia fundamental, focando-se em competências diferenciadoras e nas características e qualidades de cada aluno.
Porque é que o ensino da programação tem vindo a ganhar tanta força?
Nos últimos anos, o interesse pela programação é crescente e tem originado mudanças de carreira por profissionais de todas as áreas. Aquilo que é considerado a profissão que oferece uma porta de entrada segura para o mercado de trabalho, tornou-se uma preocupação dos pais que querem que os seus filhos estabeleçam, desde cedo, contacto com o mundo da programação.
Na opinião de Nilza Moreira, a programação pode ser realmente muito benéfica para as crianças, porque ajuda-as a desenvolver competências que serão essenciais no futuro para qualquer área profissional, como o espírito crítico, o raciocínio lógico, a criatividade, a comunicação ou o trabalho de equipa. Para além disso, também as ajuda a consolidar as matérias que estão a aprender, simultaneamente, na escola, destacando sobretudo a disciplina de matemática.
(Os alunos) acabam por trabalhar conceitos que são abordados na disciplina de matemática, sem se aperceberem. Quando chamamos a atenção de que é um conceito matemático e lhes dizemos “estás a trabalhar com coordenadas se queres definir o ponto onde a personagem vai começar o jogo”, eles tomam essa consciência e começam a mudar a forma como vêm a matemática e a ver a utilidade numa situação que, para eles, é simplesmente criar jogos.
A programação tem o dom de tornar os alunos mais recetivos a estes conceitos porque o seu ensino é feito através de ferramentas que já lhes são familiares como, por exemplo, o Minecraft Education, tornando-se mais fácil entrar na realidade que os alunos estão a vivenciar no momento. A proximidade que eles têm com os videojogos ou com as aplicações que têm no telemóvel, exerce uma influência muito positiva na sua motivação, assim como a aplicabilidade e o resultado imediato daquilo que colocam em prática enquanto estão a programar.
Começar a programar com 5 anos na Happy Code: como é esta experiência?
A Happy Code recebe alunos a partir dos 5 anos e tem diferentes ofertas em função da idade e das bases que os alunos já têm. Mediante esses critérios, meramente orientativos numa fase inicial, identificam qual é a ferramenta mais adequada para iniciarem a criação de jogos ou de aplicações. No entanto, à medida que vai avançando o ano letivo, os alunos podem começar a aprender uma outra ferramenta que pareça mais adequada, mediante o seu ritmo de aprendizagem.
Com um currículo que permite à Happy Code acompanhar todo o ciclo escolar português, têm alunos que vão desde o 1.º até ao 12.º ano e, por isso, ensinam desde ferramentas mais simples, como o Scratch ou o Scratch Junior, a ferramentas profissionais, como o Unity, Android Studio ou Python.
Os nossos cursos regulares acompanham o ano letivo, entre setembro e junho. Os alunos têm aulas de uma hora e meia, uma vez por semana, e o objetivo principal é mantê-los motivados. Mais do que fazer um ano inteiro da mesma ferramenta, eles começam numa ferramenta no início do ano e, à medida que vai avançando o ano, vamos percebendo se, de facto, aquela ferramenta é a mais adequada, ou se (o aluno) começa a ficar frustrado porque se torna muito simples rapidamente e temos que mudar para estimular a aprendizagem.
Dessa forma, os alunos podem aprender várias ferramentas e trabalhar competências que acordam o seu lado empreendedor. A metodologia da Happy Code foca-se, precisamente, na descoberta, missão e construção. A partir do momento em que lhes é atribuída uma missão, os alunos têm que idealizar a solução para um problema, construí-la e, no final, realizar um pitch de defesa para apresentarem as suas conclusões.
Com vários alunos do ensino público e do ensino privado, a Happy Code é já uma oferta apresentada pelas escolas às famílias e até por várias empresas tecnológicas, de comunicação, distribuição e outras, que oferecem essa possibilidade aos filhos dos colaboradores.
Existe pressão das famílias para que as crianças desenvolvam estas competências?
Na opinião de Nilza Moreira, as famílias envolvem-se bastante ao longo de toda a experiência de aprendizagem das crianças na Happy Code e ficam, geralmente, bastante impactadas com a prestação dos seus filhos no pitch de apresentação.
No entanto, Nilza não deixa de salientar que muitas famílias acabam por direcionar os seus filhos para esta área, a pensar nas saídas profissionais futuras e, apesar de todas as crianças terem capacidade para desenvolver estas competências, nem todas têm gosto em fazê-lo.
Alguns pais acabam por tentar direcionar, a pensar com a melhor das intenções para o futuro, o que não deixa de ser válido porque estão a desenvolver competências que podem aplicar em qualquer área que decidam no futuro trabalhar. Mas, quando forçam vão estar a obter o resultado oposto daquilo que pretendiam, porque vão criar uma aversão a esta área. Enquanto que, se dessem uma pausa (…) para que a criança ganhe outras experiências, mais maturidade, (…) voltam a enfrentar esta área e (…) até se interessam. Quando se força, é um processo irreversível.
Assista ao episódio na íntegra para saber mais sobre o mundo da programação e a transformação digital que se vive e reflita connosco acerca da recetividade às ferramentas de programação por parte das atuais equipas pedagógicas, presentes nas escolas. Qual será o caminho a seguir?
Episódio disponível no YouTube, Spotify, iTunes e Google Podcasts.
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