Contabilizam-se já dezanove episódios de “Isto Não é Pera Doce” e, como desejamos que este podcast continue a ser recheado de muitas surpresas, inovação e criatividade, neste episódio decidimos falar sobre um tema relativamente distinto: tubarões. Conversamos com João Correia, que construiu a sua carreira profissional a perseguir a sua paixão por estes animais, que surgiu ainda em criança. Licenciado em Biologia Marinha, mestre em Modelação de Recursos Marinhos e doutorado em Pesca Comercial de Tubarões e Raias em Portugal é, atualmente, Professor Universitário de Biologia Marinha. Também já escreveu livros, fez stand-up e fundou a Flying Sharks, sendo uma autêntica caixinha de surpresas e de talentos. Mas, porque é que haveríamos de convidar um especialista em tubarões para um podcast sobre Educação? Porque o Professor João teve o atrevimento que muitos de nós não temos: o de viver e trabalhar a fazer, precisamente, aquilo que mais gosta.
Eis a questão: porquê tubarões e como é que surgiu essa paixão?
Nascido em 1972, época na qual existia apenas um canal televisivo, o Professor João não perdia os documentários de domingo à tarde sobre a Natureza e o Mundo Selvagem. Chegou a ter uma paixão por crocodilos, grandes mamíferos africanos, leões, girafas, mas foram os tubarões que lhe despertaram mais interesse. Não só motivado pelos documentários mas também pelas viagens que fazia com os seus pais, sobretudo pela visita ao SeaWorld na Florida, em Orlando, rapidamente procurou saber mais sobre esta espécie. Mas, houve ainda um fator extra que aumentou, exponencialmente, a vontade de estudar os tubarões: o filme Jaws.
A “martelada” final foi quando vi o “Jaws”, que é um filme sublime. (…) Tem o personagem, o cientista, o Mr. Hooper, que é o tipo de “oculinhos”, como eu, (…) que era um especialista em tubarões. Eu fiquei doido com aquilo. “É (isto) que eu quero ser quando for grande, é o tipo que sabe umas coisas sobre tubarões.”
Desde sempre apoiado pela família e pelos amigos, na escola os professores diziam-lhe para estudar e, depois, “logo se via”. No entanto, apesar de considerar que o mérito da descoberta desta paixão seja, maioritariamente, seu e da sua família, também salientou que a pressão colocada nas escolas quando os jovens demoram algum tempo a encontrar o seu foco não é o mais correto. Na opinião de João Correia, os alunos, as famílias e todo o grupo que rodeia as crianças e os jovens devem dar o seu contributo, salientando ainda que a pressão atual colocada nas escolas e nos professores é demasiada.
Assimetrias entre professores do ensino regular e universitário
Ao longo do episódio, tivemos a oportunidade de conhecer muitas curiosidades sobre tubarões, mas também pudemos ouvir João Correia na perspetiva de Professor Universitário. Dá aulas de Biologia Marinha somente a alunos finalistas do 3.º ano e, por isso, considera-se um sortudo. Com 12 horas de aulas semanais e mais umas horas extras utilizadas para corrigir os testes académicos, não pôde deixar de salientar o excelente trabalho dos docentes pré-ensino superior, dada a carga de trabalho que lhes é exigida.
Eu tenho 2 turmas e tenho uma amiga minha que tem 9 turmas. Eu tenho 2 semestres, com 2 testes em cada um, e ela tem 3 períodos, com 2 testes e trabalhos de casa e mais não sei o quê. No outro dia, almocei com ela e fiquei de boca aberta. Se eu sinto que já estou a morrer de trabalho, com uma carga dessas aguentava meia semana e ia para casa. Portanto, o trabalho que os professores pré-ensino superior fazem é absolutamente notável.
Também nos contou aquilo que mais o motiva nas suas aulas e nos seus alunos, mas não pode deixar de comparar a atitude dos atuais estudantes com os do passado. Quando os alunos lhe perguntam como é que conseguiu, na época, um estágio nas Bahamas, ficam extremamente surpresos com a resposta. Se o Professor João teve de estar na fila dos correios para comprar selos e envelopes e esperar semanas por respostas a, pelo menos, um dos centenas emails que havia enviado, hoje os alunos têm a facilidade de o fazer através do envio de emails. Mas, para surpresa de João Correia, são raros aqueles que têm essa ideia, algo que ele considera ser um “bocadinho perturbador”.
Uma sociedade com mais consciência ambiental
Para além de insights sobre tubarões, educação e empreendedorismo, também se falou sobre sustentabilidade. Para João Correia, todos nós estamos mais conscientes, mas há ainda um longo caminho a percorrer. Aqueles que vivem no primeiro mundo, que ele define como sendo de uma “opulência obscena”, ainda têm muito para reduzir.
Quantas televisões e telemóveis é que se vão comprar (na Black Friday) com televisões e telemóveis ainda funcionais lá em casa? Só porque se apanhou um bom preço e temos mais uma polegada de ecrã. Isso tem de acabar. Até porque, não querendo dizer a alta desgraça, isso vai acabar. (…) O resto do planeta já está a sentir na pele o que aí vem. Nós (Europa, América do Norte, Japão, Austrália,…) estamos ainda muito protegidos.
Para além de interessantes reflexões sobre práticas mais sustentáveis, João Correia também nos explica a sua perspetiva quanto à crise dos oceanos e ainda recorda os seus tempos de escola, revelando aquilo que foi “menos pera doce”. Um episódio que consideramos ser polímata, dada a variedade de temas nele abordados.
Desde a influência do ambiente familiar e das viagens para as crianças bem no início do seu percurso, ao dia-a-dia de um professor universitário, empreendedorismo, sustentabilidade e várias curiosidades sobre o mundo animal, em especial sobre tubarões, vai sentir que esteve a ouvir um resumo integral sobre as notícias da semana. Tudo isto, em 30 minutos! Acredite que vai valer a pena. Vamos a isso?
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