No 14.º episódio de Isto Não é Pera Doce, há uma novidade. Pela primeira vez, estivemos à conversa com duas convidadas, Paula Silva e Eduarda Rodrigues, que estão juntas na Associação de Pais e Encarregados de Educação dos alunos de Dume, em Braga. Neste episódio, que é uma espécie de reunião de pais, podemos ouvir não só a perspetiva de duas mães que querem fazer parte da vida escolar dos filhos, como também de duas docentes que querem o melhor para os alunos. Eduarda é Professora de Educação Física e Paula, apesar de não exercer a profissão, é licenciada em Humanidades, via de Ensino em Português, Latim e Grego, e admite que o “bichinho” de ser professora nunca desapareceu.
Será que existe uma tensão entre a Escola e os Pais? De quem é a culpa?
Na Educação, é sabido que se jogam vários “jogos do empurra”, em grande maioria para atribuir responsabilidades. Um deles, é disputado pelas Escolas e Encarregados de Educação. Mas será mesmo necessário vermos isto como uma disputa? Não deveríamos, antes, olhar para esta relação como a fortificação de uma ponte entre os dois meios mais importantes para o desenvolvimento das crianças: a escola e a família?
É essa a opinião de Paula e Eduarda que tentam, com a sua intervenção na Associação de Pais, apoiar, auxiliar e colaborar com a Escola Básica de Dume para tornar melhor o dia-a-dia de todos. No final do dia, é disso mesmo que se trata. Trazer felicidade, envolvimento e relacionamento. A sua preocupação não é intervir na questão pedagógica, mas sim envolver as famílias, as crianças e estimular um respeito mútuo entre estes dois mundos que devem coexistir juntos.
Se, numa fase inicial, estas duas mães sentiram uma certa tensão aquando a sua chegada à escola, facilmente isso se modificou quando demonstraram as suas importantes contribuições e intervenções, nas áreas que são da competência dos encarregados de educação, tendo sido bem-sucedidas na geração de um respeito mútuo entre a escola e as famílias.
Como Associação de Pais, é isso que queremos: que os pais se envolvam. É para a árvore de natal da escola, mas são os pais a construir com os meninos, para depois trazerem para a escola. (…) Pôr os pais na escola, sem interferir naquilo que não é da nossa competência, mas trazer o melhor de cada um, porque aí a coisa “funciona”. – Eduarda Rodrigues
Na ótica das convidadas, ter os pais dentro da escola é essencial para que eles compreendam o sistema educativo e o porquê de determinadas decisões, que são tomadas aluno a aluno. Porém, é facto que ainda existem muitos encarregados de educação a condicionar o seu envolvimento com a escola à análise dos critérios avaliativos dos filhos. Para contornar este problema e levar os pais até à escola, com compromisso, a Associação de Pais de Dume prepara várias atividades para a sua comunidade e para cativar as crianças que, muitas vezes, são o elo de ligação com os pais mais ausentes. A associação de pais é, para elas, um investimento de longo prazo que permite preparar as crianças para a sociedade, através da promoção de aprendizagens, sejam elas emocionais ou cognitivas, capazes de estimular as suas competências interpessoais.
Um dilema recorrente entre Pais: escola pública ou privada para os meus filhos?
Os pais querem sempre tomar as melhores decisões para os filhos e, uma das mais importantes, é a escolha da instituição de ensino. Afinal, será essa a sua segunda casa. No caso de Paula e Eduarda, fizeram a mesma trajetória no que diz respeito a esta escolha. Primeiramente, colocaram os filhos numa escola particular e, agora, todos estão numa escola pública. Mudança essa que acreditam ser a realidade atual de muitas famílias. Mas, qual o porquê este trajeto?
Se no colégios privados as competências pedagógicas e as atividades extra-curriculares estão, de forma geral, centralizadas na instituição, na escola pública já não é assim. As atividades envolvem, tradicionalmente, outros locais fora da escola e também pessoas de outros contextos, o que para estas mães é uma mais-valia.
Para além das atividades, um outro fator pesou nesta decisão: a diversidade. Seja a diversidade cultural, financeira ou de literacia, ambas acreditam que a escola pública prepara melhor os filhos para a realidade da sociedade, porque fá-lo com os recursos disponíveis, enquanto que nos colégios a realidade é “mais talhada”.
Acho que (a escola pública) os prepara um pouquinho mais para a sociedade. Enquanto que, num colégio, é uma bolha mais preparada e muito talhada (…) é um preparar dos meninos com uns ovos muitos bons, na escola pública, preparam-nos com o que há. – Eduarda Rodrigues
Mas, a mudança para a escola pública exigiu mais destas mães: mais atenção, mais deslocações, mais esforço. Tanto Paula e Eduarda acreditam que a escola pública exige encarregados de educação mais atentos, disponíveis e dedicados para poderem oferecer aos filhos o dinamismo de outras atividades e assegurarem a convivência com a comunidade.
Enquanto mães, quais são as maiores dificuldades que gostariam de ver resolvidas?
Apesar de não exercerem qualquer intervenção na área pedagógica da escola, enquanto mães têm várias críticas construtivas e, grande parte delas, associadas à pedagogia e à comunicação escola-família. Para Paula, com a transição do seu filho mais velho para o 5.º ano, a realidade passou a ser diferente. Se, antes, na Escola de Dume conhecia e comunicava com todos os professores, o ponte de contacto que tem agora com a escola é, em grande parte, disponibilizado pela aplicação que foi cedida aos pais.
Para além disso, ambas mencionam a falta de atividades ao ar livre a que são expostas as crianças e os enormes programas letivos, que constituem um impedimento para os professores conseguirem realizar dinâmicas distintas e impactantes ao longo do ano letivo.
As atividades ao ar livre, falta muito. Eles estão muito tempo enfiados em sala. A questão do conhecimento cientifico é, de facto, muito importante, mas a interação com aquilo que nos rodeia, com a sociedade, dá-nos uma capacidade fulcral que, agora, é essencial: a resiliência e a capacidade de mudança. A adaptação é muito importante na nossa sociedade atual e não aprendemos a questão de adaptação colocando os meninos dentro de uma sala e debitando, e debitando, e debitando… – Paula Silva
Junte-se a nós para conhecer as principais preocupações dos pais, que vêm recheadas de esforço e de bondade para as contornar, porque o que os pais desejam é o melhor para os seus filhos. E sentirem-se úteis na caminhada deles, sempre. Mas, não é só de preocupações que este episódio se trata. Paula e Eduarda também nos contam quais são as suas maiores dificuldades, enquanto responsáveis da Associação de Pais, e também as dificuldades que mais ajudam a comunidade educativa a ultrapassar.
O Natal para os Pais pode ser alargado, se fizerem parte da vida dos filhos, diariamente. Conheça um pouco daquilo que estas mães fazem, não só para serem parte, mas também para alargarem esta missão tão recompensadora a mais famílias.
Também lhe pode interessar
Mais de Isto Não é Pera Doce!
O e-Schooling já está na BETT Brasil!
Depois da presença do e-Schooling na BETT UK em março, o e-Schooling está agora na BETT Brasil, de 9 a …
e-Schooling no Ed Tech Summit Coimbra: um evento que vai reunir Professores de todo o país
Nos dias 10 e 11 de março, irá decorrer o Ed Tech Summit Coimbra 2023, no Convento de São Francisco. …
#EP18: Uma Geração de Pais que Ambiciona Transformar o Mundo num Lugar Melhor
No 18.º episódio de Isto Não é Pera Doce, estivemos à conversa com Raquel Queirós Pinto, psicóloga clínica, doutorada em …