No episódio 13 de Isto Não é Pera Doce, estivemos à conversa com Jorge Rosado, Co-Fundador e Diretor Artístico da Associação Palhaços d’Opital (PDO). Fundada em 2013, esta associação cultural sem fins lucrativos leva sorrisos aos adultos e idosos em contexto hospitalar, tendo sido pioneira na Europa a promover a missão dos Doutores Palhaço junto de pessoas mais velhas. Ao longo do episódio, Jorge Rosado partilhou connosco as razões que o levaram a seguir a profissão e detalhou situações maravilhosas que vivencia, diariamente, nos hospitais e que lhe dão a plena certeza de que está a fazer aquilo que ama e a dar a sua melhor contribuição para mudar o mundo. Um episódio que, à primeira vista, parece não se enquadrar no contexto educativo mas, no final, vão sentir que aprenderam muita coisa!
Como é chegar a casa e dizer à família “quero ser um Doutor Palhaço”?
Foi desde muito cedo que Jorge Rosado se sentiu atraído pela diferença. Apesar de, inicialmente, ter seguido a carreira de professor, rapidamente se apercebeu de que não era a profissão certa para si e de que, na verdade, também não estava muito interessado em seguir esse caminho. Nos seus últimos anos enquanto docente, Jorge considerava-se uma pessoa muito frustrada. Olhando agora para esse percurso, sente que foi algo importante, em grande parte por ter tido a oportunidade de lidar de perto com os mais jovens, que fervilham de ideias e de vontade de fazer coisas diferentes, mas isso não era suficiente para se sentir realizado.
Quando decidiu ser Doutor Palhaço, teve o grande desafio de partilhar com a sua família que pretendia mudar de rumo, um processo que foi bastante complicado pelo facto de os seus pais terem a formação clássica de que os filhos devem seguir as carreiras tidas como “certas”, associadas a profissões como professores, economistas ou médicos. No entanto, para Jorge o que pesava mais na balança era poder fazer aquilo que o apaixonava, independentemente da questão salarial.
Uma das suas reflexões ao longo do episódio prende-se, precisamente, com a sobrevalorização que a sociedade faz do aspeto monetário que, no final da vida, nem a pensamentos se reduz. Quando questionadas sobre as coisas mais importantes e valiosas da vida, as pessoas em fase terminal nunca mencionam o dinheiro. De acordo com Jorge, que salientou um estudo realizado em vários lugares do mundo, a pessoas de diferentes culturas, todas elas têm em comum o mesmo pensamento: queriam ter amado mais. E quais são os conselhos que nos deixam?
As pessoas não falam em dinheiro. Falam em: ama o máximo que puderes; sê feliz; diverte-te; cuida dos teus amigos; e cuida de ti.
Conselhos que todos nós já ouvimos, que se assemelham a uma sabedoria que nos é inata, mas que parece que não conseguimos adquirir.
Será que podemos encontrar algo de belo num hospital?
Quando pensamos em hospitais, temos, automaticamente, sensações negativas. Mas será que por entre aqueles corredores não conseguimos encontrar uma mínima parcela de algo que seja estranhamente belo? Para Jorge, a sua grande bandeira atual é a falta de respeito e de carinho entre a sociedade e é, maioritariamente, no hospital onde ele vivencia mais carinho, onde conhece as pessoas mais inspiradores e onde vê momentos que o arrebatam.
Cuidados paliativos, área oncológica e deficiente são aquelas nas quais prefere trabalhar e onde se cruza com as pessoas que mais lhe ensinam. E são várias as recordações de histórias emocionantes e pessoas fascinantes que Jorge partilha ao longo do episódio.
No hospital da Figueira da Foz, íamos a passar às três e meia da tarde, com a luz apagada, e estava uma senhora obesa na cama e o senhor de mão dada (com ela). (…) Ele disse “a minha esposa está muito mal” e acabamos por estar ali meia hora à conversa. E quem era o senhor? O senhor, nos anos 70, conduzia um camião com uma bruta antena e, sempre que haviam grandes jogos (Jogos Olímpicos, Volta à França…), posicionava o camião na Europa, de forma a que o sinal fosse replicado para o mundo todo. (…) Conhecia o mundo como ninguém, viajava e utilizou nos anos 70, o topo de gama e tecnologia que havia na altura.
E se há algo que incomoda Jorge é, precisamente, a falta de atenção e de cuidado que a sociedade tem com os mais velhos. Provavelmente, este senhor nada tem a dizer sobre tecnologia, inteligência artificial ou 5G. Mas, será que não podia partilhar com os mais novos como é que conseguiu balançar tão bem a sua vida pessoal e profissional? Porque é que a sociedade insiste em “arrumar para um canto” pessoas que estão a chegar ao final da sua linha e que tanto têm para nos ensinar, numa fase em que as suas conclusões são tão distintas das nossas?
Temos de nos sentar todos à mesa (e, de preferência, sem ser só no Natal)!
Em Portugal existem, neste momento, 10 000 idosos abandonados nos hospitais com a possibilidade de regressar às suas casas, mas onde encontrariam um espaço vazio, sem ninguém para os receber. Jorge partilha alguns dos casos com os quais teve proximidade, em que as famílias, quando se aproxima o Natal ou alguma época de reencontros, levam os idosos até ao hospital para poderem evitar o trabalho de ter de cuidar de alguém que já não consegue ser independente.
O Natal só era feliz se o velhote não estivesse à mesa, porque ele dá trabalho, é preciso dar-lhe comida na boca, cuidar dele…. Era um Natal muito mais bonito se ele não estivesse na mesa. Isto incomodou-me imenso. Eu acho que o jantar só é bonito se aquele senhor estivesse no centro da mesa.
Que tipo de mensagens os adultos transmitem às crianças com este tipo de comportamentos? É mais uma das dolorosas reflexões de Jorge, para quem o mundo é cor de rosa e só faz sentido se estivermos todos à mesa.
Um episódio que nos mostra como é que os pequenos gestos podem espalhar muitos sorrisos e tornar o mundo num lugar melhor, nem que comecemos somente pela rua de nossa casa.
Assista ao episódio na íntegra no YouTube, Spotify, iTunes ou Google Podcasts.
Se gostava de apoiar a Associação Palhaços d’Opital, encontre mais informações no site da Palhaços d’Opital para realizar o seu donativo via MBWAY ou transferência bancária. Se pretender, também pode tornar-se num Amigo d’Opital para ajudar a associação a espalhar sorrisos nos hospitais. Saiba mais informações aqui.
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