Para o episódio 11 de Isto Não é Pera Doce, trazemos um tema muito controverso e recheado de desafios, daqueles para os quais não existem respostas certas: Educação Parental. Com a convidada Eva Delgado Martins, doutorada em Psicologia Educacional e pós-graduada em Resolução de Conflitos pela Universidade de Columbia, é também docente, escritora, técnica superior na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, e desenvolve prática clínica em contexto privado. Com uma extensa experiência em programas de avaliação parental aborda, ao longo deste episódio, vários assuntos associados à parentalidade dos dias de hoje, como a participação dos pais na escola, o porquê da ineficácia dos “castigos” ou a autorregulação das crianças. Pais, vamos a isso?
A correlação entre a participação dos pais na escola e o sucesso das crianças
Um dos maiores desafios das instituições de ensino é a comunicação com os pais e o envolvimento destes elementos no contexto escolar. Segundo a Psicóloga Eva, já existem muitos estudos que comprovam que a envolvência dos pais tem um reflexo extremamente positivo, não só nos alunos, como também nos próprios pais, escolas e professores. O impacto positivo resultante desse maior envolvimento traduz-se em vários fatores como, por exemplo, em menores taxas de absentismo escolar, na promoção do sucesso educativo e no maior comprometimento de todos nesta poderosa missão de educar.
Porém, apesar das vantagens comprovadas, ainda existem muitas barreiras na comunicação entre as escolas e os pais, que geram conflitos devido ao ruído da fraca comunicação estabelecida, resultante da falta de canais eficientes e estratégias que motivem ou que abram portas à participação dos pais. Uma das justificações dadas pelas escolas e professores para justificarem a inexistência dessas estratégias é o excesso de opiniões fornecidas pelos pais.
Muitas vezes, os professores e as escolas dizem-nos que os pais dão muitas opiniões, mas (elas) são importantes. Cada escola, faz o que quiser, (…) mas as opiniões e as informações (são) um direito dos pais e dos alunos.
Para além de alguns exemplos de habituais más comunicações que originam conflitos entre a comunidade educativa, Eva Delgado Martins partilhou algumas dicas e estratégias para que a participação e receção de informação por parte dos pais não se limite a momentos em que existem problemas. Eles são essenciais para incutirem, regularmente, nos seus filhos o prazer em ir à escola.
Apoio à parentalidade: como lidar com o insucesso escolar dos filhos e com a imposição dos castigos?
Quem são os pais que nunca tiraram o telemóvel ou a PlayStation aos filhos, durante uns dias, quando eles têm má nota? Provavelmente, nenhuns! Mas será esse um método que está correto? A Psicóloga Eva também nos ajudou a responder a esta questão, que está muito relacionada com as expectativas dos próprios pais em relação às notas dos filhos.
Para esta situação, é importante que os pais façam a gestão das suas próprias expectativas e que imponham castigos relacionados ao comportamento que querem mudar. Imaginemos que está relacionado com a melhoria das notas, faz sentido que o castigo imposto esteja relacionado com o aumento do número de horas do estudo ou com a oferta de mais apoio. A ligação entre o castigo e o comportamento em causa é essencial para que os pais consigam, efetivamente, contribuir para essa melhoria.
Se uma criança não come, não pode dizer-se: “não vais ver televisão”. O que é que a televisão tem a ver com a comida, não é? Se não come, (dizemos): “comes na próxima refeição”. (…) E isto resulta, porque os castigos têm que estar relacionados com o comportamento que nós queremos mudar.
O mesmo acontece quando queremos que os nossos filhos sigam uma determinada atitude como, por exemplo, não utilizar o telemóvel durante as refeições. Se os pais atendem chamadas à hora de jantar, as crianças e os jovens não vão ter nenhum modelo a seguir. É essencial que os pais demonstrem segurança nas suas decisões, realizando os comportamentos da forma que os requerem, para que as suas crianças sejam também seguras dos seus comportamentos.
Conversas entre Pais: porque é que são mais importantes para eles do que para os seus filhos?
Uma das maiores dificuldades dos pais é expor os seus problemas relacionados com a educação dos filhos. Parece-lhes quase impensável verbalizar algumas opiniões, em grande parte para não se sentirem maus pais ou, simplesmente, para fugirem das críticas da sociedade quanto a um assunto sobre o qual toda a gente tem algo a dizer, mesmo quem não tem filhos. Por isso, a abordagem destes temas entre pais é essencial para que eles saibam que não estão sozinhos.
Mais do que (…) um profissional dar estratégias, outros pais dizerem “olha, eu fiz isto e funcionou”, é um respeito e até muito mais credível. Se aquele pai, que tem um filho da mesma idade, conseguiu, eu também vou conseguir!
Pedir auxílio na gestão familiar é uma mais-valia para que se possa trabalhar, de forma personalizada, cada contexto familiar. Para este tópico, a Psicóloga Eva também partilhou algumas das suas experiências quando visita as casas das famílias ou as salas de aula. É essa proximidade com os ambientes em que a ação ocorre que lhe permite identificar uma série de comportamentos inconscientes, que os pais ou os professores não iriam verbalizar e, consequentemente, desenvolver estratégias adequadas para resolver as lacunas identificadas, quer no contexto familiar ou escolar.
Assista ao episódio e navegue connosco pela desafiante, mas também maravilhosa, missão de educar. A Psicóloga Eva ajuda a descomplicar e a navegar pelo mundo da parentalidade da melhor forma, sem que se esqueça do prazer e do privilégio que é poder fazer parte dele.
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