Professor,
às vezes, não é fácil deixar de sentir um bocadinho de ciúmes quando os nossos filhos confiam mais em si do que em nós.
Podemos ter um Doutoramento em Matemática com especialidade em Álgebra, Lógica e Fundamentos, ou até ter integrado uma equipa especial da NASA para fazer um mapa das flutuações da radiação cósmica de fundo do universo (que não é o caso), mas isso pouco nos valerá quando tentamos explicar alguma matéria da escola de uma maneira diferente daquela que o professor faz.
“Mas o professor não explicou assim!!!”. Qual o pai ou a mãe que ainda não ouviu este desabafo dos seus filhos? Se ainda não ouviu, prepare-se, isto vai mesmo acontecer.
A mim, aconteceu vezes sem conta! Contra-argumentava o desabafo com, “mas ouve até ao fim, vais ver que é mais fácil de perceber”. Eles até ouviam até ao fim, com aparente atenção, mas mal terminava e perguntava “Percebeste?” a resposta era sempre, “Mas o professor não ensina assim!”. What?! “Ó raios, mas assim é mais fácil, no meu tempo as contas de dividir faziam-se assim e é mais fácil de perceber, não achas?”. “Mas o professor não ensinou assim!” – leia-se isto já visualizando os olhos dos rapazes, e os meus, encharcados de lágrimas. Ambos frustrados. Eu, porque não compreendo como eles não acham a minha explicação mais clara do que o professor, e eles, porque não percebem como eu posso estar a “contradizer” o professor.
Mas, depois, paramos. Vejo aqueles olhos confusos a tentar compreender-me, sem pôr em causa o que o professor lhes ensinou, e percebo que, para mim, fazer contas de dividir da forma como estava a explicar é mais fácil porque foi assim que o meu professor me ensinou.
Volto à escola e recordo o professor e toda a confiança que depositava naquilo que ele me dizia. Por isso, os meus filhos estão a fazer exatamente aquilo que eu fiz.
O vínculo. Ele é o culpado!
Cruzei-me, em tempos, com uma entrevista dada pela Eliane Sukerth Pantalena, mestra em Educação com a dissertação “O ingresso da criança na creche e os vínculos iniciais” (2010), onde ela resume esta relação de proximidade entre a criança e o educador/professor.
“… à medida que cresce, a criança amplia o forte apego dos primeiros anos de vida aos pais para outras pessoas e o apego passa então a ser chamado de vínculo.”
A sensação de proteção e conforto que a criança tem com os pais é transferida para o professor em contexto escolar. O vínculo, na Escola, é uma relação em que o professor passa a ser uma espécie de amigo preferido.
E, quando o professor estabelece um vínculo afetuoso com a criança, ele passa a ser visto como modelo por ela.
Logo, por mais que nos desdobremos em explicações e exemplos de resolução das contas de dividir, eles irão confiar sempre na explicação do professor.
Claro que isto não é assim tão linear, mas ajudou-me a compreender este comportamento dos miúdos e confirmar que está tudo certo assim.
“O educador viabiliza a entrada da criança em todo este universo do conhecimento”.
Se este vínculo existe é porque eles estão e sentem-se felizes na escola muito por culpa do professor! E, o que mais nós pais podemos pedir? Nada, apenas agradecer!
Obrigada, professores!
(By the way, o método de resolução das contas de dividir dado em 1990 é muito mais fácil de compreender).
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