No sexto episódio de “Isto Não é Pera Doce”, estivemos à conversa com Guilhermina Lobato Miranda, Psicóloga e Professora Universitária no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Arriscamo-nos a dizer que, até ao momento, é o episódio que personifica, na perfeição, a caracterização que fazemos deste podcast: verdades nuas e cruas. É uma conversa recheada delas! Não temos a certeza se está pronto para o que aí vem, mas só há uma maneira de saber…
O que é que vai encontrar neste episódio?
Antes de seguir viagem para o episódio, vamos revelar-lhe um pouquinho daquilo que vai encontrar por lá. E não é muito, e não é pouco…é bastante! Guilhermina Miranda conta com uma experiência de mais de 30 anos na área da Investigação e Educação. E onde há experiência, há sabedoria!
Neste episódio, Guilhermina faz uma crítica reflexão sobre o atual sistema e estratégias de ensino, salienta os problemas ideológicos que atravessamos e as falhas na relação entre professores-alunos-pais. Pelo meio, também há espaço para falar de Inclusão, que não deve ser confundida com falta de rigor, e partilha uma série de experiências que não o vão deixar indiferente.
Além disso, ainda vai mais longe e tece duras críticas à sociedade que, na sua perspetiva, se rege pelo amiguismo, endogamia e egocentrismo. E isso leva-nos até onde? Até à ignorância ou para além dela: será que estamos a chegar ao grau 0 da ciência?
Se formos ignorantes, será que o Google nos safa?
O pontapé de saída do episódio começou por aterrar na importância da memorização. Na visão de Guilhermina, não há compreensão sem memorização. Mas será que, hoje em dia, sabemos o que é a memorização? É que ter boa memória não é “papaguear de cor”…
A nossa memória deve ser treinada para que possamos registar conhecimentos. Atualmente, com a tecnologia, facilmente chegamos à informação que pretendemos. Mas será que conseguimos averiguar a sua credibilidade e distinguir aquilo que é verdadeiro ou falso?
Eu vou ao Google, mas se eu for ignorante, não sei distinguir o que está correto do que está incorreto. Não sei quem são as pessoas que têm formação séria, não sei os conceitos, não sei distinguir o verdadeiro do falso.
Foi a partir deste ponto que surgiu o tema das estratégias de ensino, que diferem das estratégias de aprendizagem. Mas, na opinião de Guilhermina, a Educação funciona por modas e é demasiado apegada à ideologia. E isso acaba por se traduzir em ensinar aquilo que acreditam ser moderno, apesar de não o ser, e numa fraca formação dos Professores quanto a estratégias de ensino que influenciam a aprendizagem.
Estamos a educar ou a deseducar?
Para Guilhermina, as atitudes dos Professores são fundamentais para educar os alunos, tendo partilhado algumas das estratégias que utiliza, desde a 1.ª aula, para assegurar o seu poder e autoridade enquanto docente. Para além disso, ainda aponta vários problemas que persistem no atual ensino que, na sua perspetiva, é meramente para elites. Neste caso, apenas 10% da população, que ela aponta como sendo os indivíduos culturalmente ativos.
Nós temos um problema de base, que foi um atraso civilizacional e de instrução, e passamos de uma sociedade que não lê para uma sociedade da tecnologia, que clica e que continua a ler muito pouco. É os tais 10% que leem, que vão ao cinema, que vão ao teatro…”
Este ensino para elites acaba por se traduzir em alunos desinteressados, que não têm acesso a aprendizagens básicas e essenciais e que não têm expectativas elevadas de realização. Mas, para Guilhermina, é possível contornar estes problemas. Sabemos que todos somos heterogéneos e que a inclusão é essencial e exige adaptação, mas não podemos deixar de lado o rigor, a motivação e as práticas deliberadas.
Uma cultura centrada no ego e feita para os “amiguinhos”.
Se Guilhermina não deixa passar despercebido o desinteresse e a falta de conhecimentos dos alunos, a sociedade no geral também não lhe escapa, nem as falhas dos Professores e dos vários tipos de Ensino.
Para esta convidada, somos uma cultura “muito palavrosa”, centrada no ego ao invés da tarefa, e que não é educada para a responsabilidade total dos seus atos. A predominância do “amiguismo”, da endogamia e do egocentrismo, traduz-se numa sociedade em que as competências são todas encenadas e onde não há lugar para os melhores, os ditos 10%. Um país pequenino, onde tudo poderia funcionar sobre carris.
A endogamia não gera diversidade, nem gera concorrência. A endogamia fecha, cada vez mais. Se fossem endógamos, mas competentes, eu ainda perdoava. Agora, são endógamos e incompetentes. (…) Como é que nós, com 10 milhões, não conseguimos gerir? Nem sequer São Paulo é, não é uma cidade, não é Istambul, somos 10 milhões…Isto seria fácil, acho eu.
Está com um tempinho para navegar, imensamente, na Educação e Sociedade Portuguesa? Então não precisa de ir à prateleira buscar o “Auto da Barca do Inferno”. Só tem de pôr os fones e juntar-se a nós nesta conversa que lhe vai trazer uma maré cheia de reflexão.
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