Escritor, colunista, jornalista, palestrante, são algumas das facetas de Marcos Piangers, mas apenas quem esteve completamente alheado da internet é que não conhece, ou ouviu falar, do Pai mais Cool do Brasil.
Mas como não convidar Marcos Piangers para o nosso podcast? Ele é um guru na Educação, com centenas de milhares de livros vendidos, intenso e inspirador. A vontade de o conhecer era imensa, queríamos muito conversar com ele e, por isso, o convite não tardou e a resposta, gentilmente, foi positiva. Não esperamos uma visita do Marcos a Portugal, nem um regresso nosso ao Brasil, pelo que nos apressamos, mesmo sem a qualidade de imagem e som que este convidado merecia, a fazer o podcast em ambiente remoto.
A conversa rapidamente se estendeu por temas como as comunidades educativas, no entanto, fica-se sempre com a sensação de que nos referimos, unicamente, aos alunos e professores. É necessário falar dos atores destas comunidades que parecem, em alguns momentos, tão menos relevantes ou esquecidos: os pais/as famílias.
Marcos Piangers começa por falar sobre a geração atual das famílias, considerando que é a melhor que tivemos na história da humanidade. Esta geração tem muitas mais ferramentas, conhecimento e condições para lidar com os desafios de uma forma mais preparada. Pais “duros” e expressões como “no nosso tempo é que era bom” nada faz sentido na opinião do nosso convidado. Mas esta geração lida com outros desafios, como a tecnologia, a falta de tempo dos pais que estão sempre a trabalhar, numa sociedade de cansaço. O distanciamento e conexão entre pais e filhos; pais e família; pais e escola; ou até mesmo entre vizinhos. É uma realidade de uma sociedade que não confia muito. Marcos refere ainda que as crianças que nascem com criatividade para aprender, ao longo do tempo, vão perdendo esta soft skill, mencionando que existe de facto motivos para esta perda. Entre muitos dos motivos que enumerou, destacamos a falta de entusiasmo nas salas de aula que as crianças, por vezes, encontram.
“O entusiasmo pode acompanhar-nos ao longo da vida. Neurologicamente, o nosso cérebro não terá esta capacidade porque ele vai criando os seus atalhos, de forma a explicar o mundo e gastando menos energia. Mas o entusiasmo com o novo pode acompanhar-nos ao longo da vida. O que é triste na escola é uma sala de aula sem entusiasmo. A única forma de ensinar qualquer criança/pessoa é criar este entusiasmo.”
Inevitavelmente, falamos sobre os professores e sobre o papel fulcral que estes têm no entusiasmo da criança. Talvez, na sua opinião, a grande habilidade do professor é dar inspiração e motivar-se para trazer as crianças como discípulos.
“Os conteúdos são importantes, mas é preciso valorizar os afetos”
E, é aqui, que o professor se torna a peça central. No entanto, a profissão dos professores é muito solitária, cansativa e burocrática. O facto de os professores terem de trabalhar com perfis tão rígidos e terem que adaptar os alunos a cada perfil, pode ser uma causa de sofrimento dos alunos e professores. O professor (e a nossa sociedade) está cansada, mas o professor terá sempre de se reconectar com os alunos.
As novas tecnologias também entram aqui como um papel fundamental. Através delas é possível absorver a informação sobre a aprendizagem técnica do aluno. Embora nos tenhamos transformado numa sociedade bastante mecânica: “entramos numa escola industrial, produzindo os alunos como se fosse uma esteira de uma fábrica, todos eles têm de ser padronizados, entrar num padrão de notas, para chegar do outro lado para entrar no mercado de trabalho; chegam nos escritórios bastante mecanizados, entrando hoje numa crise nas empresas da perceção.” É importante que se compreenda que “nós somos treinados para sermos máquinas, mas as máquinas são muito melhores que nós, logo a reconexão com o nosso humano, com aquilo que a máquina não tem: a capacidade de comunicar, conectar, colaborar, de criar, deve ser o nosso foco nas escolas.”
O pai moderno vê na tecnologia muitas oportunidades, o único grande problema é a tecnologia separar quem está perto. Quem está na mesma casa e usa a tecnologia como uma parede. Uma parede no vínculo entre pais e filhos. Na casa do Marcos Piangers são uma família low tech. Baixo uso tecnológico para privilegiar muito o desenvolvimento da habilidade humana e, isso, com certeza é um dos motivos para uma visão tão crítica e sustentada sobre a educação que estamos a dar aos nossos filhos.
Prepare-se para uma boa conversa que, caso tenha filhos ou não, vai gostar muito de ouvir.
Pode assistir no YouTube, Spotify, iTunes ou Google Podcasts.
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