No dia 12 de maio, na BETT Brasil, um dos maiores eventos internacionais de Educação e Tecnologia, estivemos à conversa com Rosa Alegria, Diretora Geral da plataforma de Educação Teach the Future e Co-Founder da Startup Pangera- mundo sem idade. Uma das futuristas mais reconhecidas da América Latina, que nos veio falar sobre a inclusão do Futurismo na Educação.
Mais de 21 anos de futurismo… É, sem dúvida alguma, uma referência naquilo que é a disrupção e o Futurismo em si. Para além de ser uma comunicadora, investigadora e pesquisadora da natureza, é também uma educadora.
O que é o Futurismo como trazemos isso para a nossa linguagem?
O futurismo também é chamado de prospectiva nos países latinos. É uma disciplina que estuda as mudanças do mundo, de forma a compreendê-las e, assim, podermos anteciparmo-nos e planearmos. É uma disciplina interdisciplinar que ajuda pessoas, professores e empresas em várias faces.
Portanto, o futurismo tem impacto em nós próprios e nas nossas ações?
Exatamente. É isso mesmo.
Como é que nós somos futuristas? Como é que o colocamos em prática sem renegar ou sem colocarmos em causa aquilo que trazemos de bagagem, ou seja, as nossas tradições?
Primeiro vou explicar o que é um futurista que, por vezes, é uma profissão mal compreendida. Um futurista estuda, cientificamente, as mudanças do nosso mundo para que, posteriormente, possa trabalhar várias possibilidades de forma a colocá-las em prática. Eu sou uma futurista profissional. Nós provocamos as organizações de forma a que olhem em direção ao futuro e procurem novos horizontes, olhando para o futuro, para o passado e reinventando o presente. O passado é apenas um ponto de partida, uma referência de análise. Ele diz-nos quais foram os desafios e as resistências para que, no futuro, possamos ultrapassá-las.
Não podemos morar no passado.
Exato, não podemos. Embora, às vezes, insistimos em ficar no passado. O passado é apenas uma referência, mas não serve como ponto de partida para criar algo novo. O mundo está sempre em mudança, temos que o acompanhar, não podemos permanecer sempre no passado ou apenas projetá-lo, porque as mudanças não são mais contínuas como antes, passam a ser descontínuas e complexas. Estudar o futuro com as suas incertezas: este é o nosso trabalho.
“Não existe nenhuma disciplina nas Escolas que prepare os alunos para as mudanças do Futuro”.
A Rosa fez algumas integrações pelo mundo fora e, sem dúvida, as mais mediáticas foram as Tech Talks. E, em tempos, num desses Tech Talks, mencionou que os jovens têm muita dificuldade em imaginar o Futuro e, quando o imaginam, é geralmente algo negativo. Diria que os atuais padrões educativos estão a retirar às crianças o poder e a beleza da sua imaginação, que os pode levar a reinventar todo um Mundo Novo?
Quando pergunto nas minhas apresentações quem estudou o futuro, a resposta é negativa. Nós só estudamos a História e a História é provada, é certa, é definida. O Futuro não. E nós, por vezes, temos de ir em direção ao desconhecido. O que eu vejo é que as Escolas têm tendência a ir por aquilo que é cientificamente provado, por algo que é linear. Mas nos dias de hoje não podemos contar mais com isso. O mundo não é assim. Não é a continuidade de algo que começou. Está em constante mudança. E, portanto, não existe nenhuma disciplina nas Escolas que prepare os alunos para estas mudanças. O que nós propomos nas Escolas, através do Futurismo, é fazer com que esta enquadre o Futuro como uma disciplina, tal como a História. O Futuro é o resto do tempo que as crianças têm para viver e, portanto, elas precisam de olhar para ele sem medo. Algo que ainda não aconteceu. As crianças têm de ser mais libertas, mais proativas, mais leves e menos vítimas. E isso só acontece se existirem novas ferramentas e novos conhecimentos. É necessário existirem boas condições de forma a conseguir protagonizar projetos, planos e ideias para este mundo. Quando tens uma ideia, tornas-te protagonista deste mundo. Sinto que as Escolas ainda não estão alinhadas neste sentido. Porque a cultura que os rodeia ainda é uma cultura muito negativa. Nós, Futuristas, trazemos a possibilidade de os jovens entrarem em contacto com o seu futuro. E quando isso acontece, nós ensinamo-los a planear, oferecemos ferramentas de forma a que eles possam estabelecer o seu caminho.
Ou seja, ajudar a projetá-los naquilo que poderá ser o caminho?
Sim, exatamente.
Eu recordo-me de uma frase muito interessante sua em que diz que as Universidades ensinam os professores que vão acabar, ou seja, já estamos aqui desalinhados entre aquilo que é a pauta escolar e aquilo que são as necessidades.
Assim como ensinamos o passado, também temos que ensinar o Futuro. Esta é a base do Teach the Future, o movimento que lidero no Brasil e que já se encontra também na Europa, África e na América. O nosso propósito é promover a alfabetização do futuro, que a UNESCO promove desde 2012, num departamento Futures Literacy. A alfabetização dos futuro que promove alunos e professores de todo o mundo, e que vai ao encontro daquilo que referi anteriormente: é realmente necessário ampliar a imaginação das Escolas.
Como é que imagina o Futuro da Educação em 2030?
Acho que estamos atravessar uma crise muito grande e a pandemia só veio acelerar as transformações endémicas. Acredito que, em 2030, as Escolas vão evoluir bastante.
“Acredito que no Futuro, as Escolas tornam-se mais democráticas, mais inclusivas, inovadoras, imaginativas e menos centralizadas e hierárquicas”.
Há uma frase sua em que diz que nós não estamos em época de mudança, mas sim numa mudança de época.
Claramente. E a pandemia covid-19 só veio acelerar isso. Após o Covid-19, tudo vai ser mais rápido. Nestes últimos dois anos de pandemia, houve mais mudanças do que nos últimos trinta anos. A Educação também tem que mudar. Embora hoje ainda vivamos no meio de muita confusão, acredito que no Futuro a Escola se torne mais democrática, mais inclusiva, mais inovadora, mais imaginativa, menos centralizada e hierárquica. Acredito que vamos poder assistir a Escolas muito mais respeitosas no sentido de dar mais espaço aos estudantes. Hoje estes aspetos ainda não estão muito bem equilibrados, porque a Escola ainda é um agente de receber coisas. As crianças são agentes de aprendizagens, elas ensinam-nos muita coisa.
E agentes de mudança também!
Exatamente. E nós temos que lhes dar espaço. Não podemos falar só para eles, temos de falar com eles. Colocá-los na nossa conversa, dar mais atenção ao que eles dizem.
Contribuírem, efetivamente, para estas mudanças.
Sim. Eu acredito muito no ensino híbrido. E acho que é este o caminho que estamos a seguir agora e que não tem como voltar atrás. Não acredito que os espaços físicos irão acabar, porque o ser humano necessita de relações humanas, mas irá com certeza existir novas salas de aulas, nomeadamente, em espaços abertos.
Acha que isto é mais fácil de implementar no ensino privado e que vamos ter um problema ao implementar no ensino público?
Na situação em que nos encontramos hoje, sem querer desconsiderar o ensino público, que tem claramente as suas qualidades, acho que será mais fácil fazer este tipo de implementações em escolas privadas, porque são escolas que têm mais abertura, enquanto que a escola pública tem imensas burocracias. Infelizmente, estas escolas não têm independência. A escola privada, além de ser mais aberta, ela também quer atrair mais alunos e, portanto, quanto mais inovador, melhor para a retenção de alunos.
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