Aprendizagens essenciais: o que falta aprender?

Neste artigo refletimos sobre a dificuldade de implementar as aprendizagens essenciais para lá das planificações: nas dinâmicas e nas avaliações. Levantamos dúvidas, mas também procuramos dar algumas respostas. Principalmente, para evitar as armadilhas da uniformização, simplificação ou da mera redução aos conteúdos disciplinares.

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Aprendizagens essenciais: o que falta aprender?
Fígura de ondas técnologicas azul

As aprendizagens essenciais (AE) são um excelente tema para aquecer os ânimos na comunidade educativa. Seja pelos documentos orientadores, que muitos acusam de ser vagos ou contraditórios, seja pela definição do que são concretamente as aprendizagens essenciais e os meios para as promover. 
Mas vamos por partes, que é sempre a melhor forma de comer um bolo grande.  

Perfil dos alunos à saída do ensino obrigatório (PASEO) 

Saber para onde se pretende ir é a melhor forma de começar uma viagem, excetuando para aqueles que gostam de se perder. Se isso pode ser desafiante num percurso pelos corredores do Louvre, pode ser angustiante na cidade do México ou no Rio de Janeiro.  

Na educação, onde perdermo-nos é o mais provável, ter sempre à mão bons mapas educativos dá muito jeito. Sem dúvida, o PASEO é fundamental. Claro que a primeira suspeita foi a de vir contribuir para uma uniformização, mas logo no prefácio, os responsáveis sossegam os mais inquietos: “A referência a um perfil não visa, porém, qualquer tentativa uniformizadora, mas sim criar um quadro de referência que pressuponha a liberdade, a responsabilidade, a valorização do trabalho, a consciência de si próprio, a inserção familiar e comunitária e a participação na sociedade que nos rodeia”. 

O PASEO propõe-nos uma visão de um perfil do aluno que reflete o seu tempo, e não há mal nenhum que assim o seja, uma vez que é o nosso tempo. Seria preocupante se refletisse uma visão de outros tempos. Se este perfil fosse criado nos anos cinquenta do século passado, dificilmente o pensamento crítico seria integrado, ou ainda nos anos setenta, poucos se lembrariam da sustentabilidade, para não falar de outros temas. 

Um perfil do aluno reflete uma visão de cidadania, da democracia, dos valores que consideramos fundamentais e decisivos para a construção de uma sociedade justa e livre. E um pouco por todo o mundo desenvolvido, sabemos que os governos se empenharam em definir currículos que permitam às escolas trabalhar para uma missão comum. 

As aprendizagens mesmo, mesmo essenciais 

O debate em alguns países, nomeadamente em Portugal, incide sobre a definição das aprendizagens essenciais, que muitos consideram ser pobre em algumas disciplinas, simplificadoras e que terão resultados desastrosos no futuro das atuais gerações mais novas. Não vou entrar nesse debate, porque me exigiria um conhecimento aprofundado sobre diferentes currículos. Além disso, é algo que tem de ser corrigido centralmente. 
Mas há aqui algumas questões que continuam a ser ignoradas olimpicamente.  

  1. Fala-se de individualização com uma ligeireza impressionante, como se falássemos do tempo ou apenas de um resultado desportivo. Convém lembrar que a individualização é o Santo Graal da educação, a missão última e fundamental da escola. Ou seja, aquilo de que todos falam, com que todos sonham, mas que nunca ninguém viu. Com este modelo tão centralizado de aprendizagens, currículo e avaliação, que ferramentas têm os professores para ajustar às especificidades de cada aluno? Como podem evitar estatelarem-se ao comprido no piso muito escorregadio em que trabalham diariamente e contribuírem ainda mais para a uniformização? Não estaremos a tabelar por planificações transversais em múltiplos domínios e que exigem observações complexas e recolha de dados integrados acima das nossas possibilidades? Reparem que estou a perguntar. 

  2. A sobrecarga de trabalho do professor parece ser óbvia. Mesmo reduzindo as aprendizagens essenciais (para muitos, de forma abusiva), a maioria dos professores deverá trabalhar num currículo em dez áreas de competência diferentes, exigindo olhares transversais em dimensões cognitivas, metacognitivas, comportamentais, física e emocionais. A maioria dos professores está confortável com os conteúdos da sua disciplina e em aspetos comportamentais visíveis. Que preparação e ferramentas têm para orientar e avaliar noutras dimensões? 

  3. Não custa imaginar que se nas planificações estão lá colocados os descritores de perfil em cada um dos temas, muitos dos professores tendam a olhar fundamentalmente para os conhecimentos e capacidades relacionadas com o âmbito da sua disciplina e que ignorem o resto. Não quero ser injusto, mas existe algum referencial para orientar o peso que num determinado tema de matemática deve ser dado à linguagens e textos ou ao desenvolvimento pessoal? O mais provável é que seja a olho. Sem dúvida que os professores se esforçam por promover essas competências, mas como as podem avaliar? Basta pensar na dificuldade de calcular através da nota num determinado tema a matemática qual o progresso daquele aluno em diferentes competências.  

As aprendizagens essenciais são decisivas para termos um ensino de qualidade, com padrões de exigência comuns, mais igualitário, livre e que promova a justiça social. Contudo, a sua estratégia de implementação continua a ser quase analógica, de costas voltadas para os avanços tecnológicos. Assim sendo, o impacto das AE continuará a ser posto em causa pelas desigualdades sociais, pelas diferenças de meios entre escolas e dependente da abnegação de cada professor e grupo curricular. 

Continuo a ver os professores perdidos em tabelas e plataformas, com cálculos complexos para conseguirem interpretar dados que passam diariamente à frende dos seus olhos. 
Além disso, se for verdade que há uma excessiva simplificação das AE, isso decorrerá de um reconhecimento implícito por parte das autoridades de que há uma sobrecarga dos professores. A tal ponto que, estando os professores sem tempo e sem meios para trabalhar melhor, a forma mais imediata de melhorar taxas de conclusão é reduzindo a exigência. 

As ferramentas essenciais 

Vamos imaginar que um professor dispõe na sua plataforma escolar dos diferentes temas, objetivos, ações e descritores com que vai trabalhar. Digamos que ele tem de os validar e aplicar em determinado período de tempo. Que o sistema lhe propõe e disponibiliza ferramentas adequadas ao registo imediato e rápido desses dados. Que os perfis individuais se vão construindo, gradualmente, permitindo um olhar transversal sobre alunos e turmas, sistematizando e ajudando a compreender todo o seu trabalho diário. 

Essa é a missão do e-Schooling: integrar professores e alunos numa plataforma global, inteligente, cuja interação se centre nos desafios da aprendizagem, com ferramentas e meios que interpretam, apoiam e orientam. 

Sempre com ajustes a fazer, num processo que aprende de forma rápida, menos desgastante, mais motivador para cada docente e responsável educativo. Num processo que lhe oferece alternativas e dá espaço para refletir, em vez de o deixar perdido num registo infindável e inconsequente de dados que nunca “explicarão” o que querem dizer. 

O que falta aprender sobre aprendizagens essenciais é tudo o que a tecnologia pode fazer por nós. Já percebemos e aceitamos que as grandes tecnológicas conheçam o nosso perfil para nos ajudar nas pesquisas, nas compras e até na orientação. Mas ainda não aprendemos que tudo isso pode ser posto ao serviço da educação. E haverá melhor destino a dar à tecnologia do que promover a individualização e um ensino de qualidade para todos? 

João Paulo Teixeira

João Paulo Teixeira

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